A dificuldade de encontrar um ajudante estava incomodando Zeca, ninguém queria trabalhar pelos 8 reais que ele tinha, aliás 8 não cinco e cinqüenta porque ele tinha esquecido de separar o dinheiro para o fumo do cachimbo. O jeito seria fazer todo o trabalho sozinho, mas tinha medo que isso o desmoralizasse afinal ele era uma autoridade, com carteirinha (feita por ele mesmo) e tudo. Mas às vezes o universo conspira ao nosso favor e com Zeca não seria deferente, e foi na peixaria conversando com os ex-colegas de trabalho que ele lembrou de Cardosinho. Vamos concordar que Cardosinho não era uma das opções mais inteligentes, mas era trabalhador e desde que chegará do nordeste não tinha conseguido nenhum trabalho fixo.
E naquela mesma noite Zeca estava na porta do barraco que Cardosinho morava.
- Cardosinho, trouxe uma grande oportunidade pra você.
- Tô sem ninhum Zeca, o que tinha comprei a mistura pra janta.
- Não estou vendendo nada, vim te oferecer emprego.
- Oxe, é mermo? Intão eu aceito
- Mas não queres saber o que é?
- E eu to podeno escolher? Qto é o salário?
- O salário é pouco, mas o trabalho é muito
- Eita que parece que to de volta no Ceará.
- Mas quando as coisas melhorarem eu aumento o salário. Toma aqui um adiantamento.
- Cinco reais? Então ta bom. Quando eu começo?
- Amanhã, me encontra lá na praça que te dou uma carona, assim economizo o dinheiro da tua passagem.
E no dia seguinte lá estava Cardosinho esperando ansiosamente por Zeca, a emoção era tanta que nem conseguiu dormir a noite. Quando Zeca chegou ele já estava impaciente.
- Arre homê, pensei que tu num vinha.
- Calma, só estava tomando um café ali na barraca do seu Maneca.
- E cadê o carro?
- Que carro?
- O seu, que nós vai pro trabalho.
- Mas eu não tenho carro, nós vamos de carona na jabiraca do Zé que vai leva os peixes lá pra peixaria.
E lá foram eles em direção ao “escritório”. No caminho Zeca explicava a Cardosinho a natureza de seu negócio e quais seriam suas funções. Cardosinho ficava mais empolgado a cada palavra, e antes de chegar ao escritório já se sentia “um homem da lei”.
- Isso é o esquito... o esticr... ah, isso é a sala?
- Sim, o que achou?
- Mas isso num é a lixeira?
- Elementar meu caro Watson. (Zeca sempre quis dizer isso)
- Cume qui é? Do que ocê me chamo?
Zeca não conseguiu conter a risada
– Quer dizer "isso mesmo". A sala parece uma lixeira porque está disfarçada.
- Oxe, e porque num disse logo invés de ficar falano otro idioma. E o disfarce é tão bom que até o cheiro é igual.
- Essa é a minha mesa e aquele ali é o seu banquinho.
- E onde que ta o telefone pra eu atende?
- Lá em baixo, na entrada do prédio tem um orelhão é lá que vc vai ficar, mas antes vc vai pegar esses papelzinho que eu fiz ontem a noite e vai fazer propaganda do escritório.
Vinte minutos depois que Cardosinho saiu, Zeca já estava sonhando com seu primeiro caso, seria um adultério, um assassinato, o roubo de alguma jóia ou um corno que roubou uma jóia e foi assassinado? Zeca ainda fantasiava quando a porta abriu de repente e uma senhora entrou...
terça-feira, 8 de abril de 2008
terça-feira, 1 de abril de 2008
O Escritório
Zeca não conseguia se conter, finalmente depois de exaustivas 16 horas de curso ele finalmente era um detetive formado (por correspondência) e com direito a diploma e tudo, e não era qualquer diploma não, era feito no computador e todo colorido. Certamente foram os R$ 15,00 mais bem gastos da sua vida e ainda ganhou uma lupa para coletar pistas. Agora só faltavam duas coisas para começar as atividades, um escritório e um cachimbo, porque segundo ele “... todo detetive que se preza usa cachimbo!” Ah, talvez um assistente pq o que seria de Holmes sem seu “caro Watson”?
Ainda sobravam R$ 85,00 do dinheiro que conseguiu juntar com as horas extras na peixaria, e na sua falta de experiência no mundo dos negócios Zeca acreditava que seria suficiente para suas principais necessidades, até já tinha marcado com o síndico do centro comercial no centro da cidade.
- Bom dia, o senhor deve ser o Sr José Carlos.
Para Zeca aquilo soou até estranho nunca ouviu a palavra senhor e o seu nome na mesma sentença aliás, nem lembrava a última vez que haviam dito seu nome completo. – Sim sou eu, e o senhor deve ser o senhor Síndico.
- Pode me chamar de Antonio, em que posso ajudá-lo?
- Eu to montando meu escritório de detetive e tava quereno alugar uma sala.
- Detetive?
- É, tenho um diploma e uma carteirinha que eu mesmo fiz, quer ver?
- Não, não precisa. Tenho uma sala perfeita, 100m², bastante arejada, bela vista só R$ 350,00
- R$ 350,00? Num tens algo mais baratinho?
- Tenho uma por R$ 280,00 mais é menor.
- Inda tá pesado.
- Quanto o senhor tem?
Senhor de novo, cada vez Zeca se sentia mais importante – Bom eu tenho R$ 85,00 menos os R$ 7 do cachimbo sobra... R$ 78,00
- Setenta e oito reais?
O sindico achou que aquilo só podia ser uma brincadeira, mas resolveu embarcar.
- Eu tenho uma sala perfeita pro senhor e ainda vou dar um desconto, vou cobrar só setenta o resto o senhor economiza.
- Opa, desconto e bom também.
- É uma sala bem reservada, intimista. Fica no 3º andar, vamos que eu vou mostrar ao senhor.
E foram em direção a “sala” que seria ocupada por Zeca.
- Aí está.
- Onde?
- Essa porta aí na frente... Não é uma beleza?
- Mas isso num é a lixeira?
- Claro que não.
- Mas ta pareceno, tem até a portinhola pra joga o lixo lá em baixo.
- O senhor não é um detetive? É uma sala disfarçada, pra não chamar atenção.
- Ah, isso e bom também. Assim ninguém vai desconfiar.
- Viu? Sala personalizada.
- Negocio fechado.
O síndico não acreditava, mas ia continuar dando corda.
- Ah, se alguém aparecer aqui querendo jogar lixo o senhor deixa.
- Mas por que?
- Pra que ninguém descubra o disfarce da sua sala.
- Ta certo, o senhor tem toda razão seu síndico.
- Antonio
- Ah é, esqueci. Posso chamar de Toinho?
- Não.
Agora Zeca já tinha diploma, carteirinha feita por ele mesmo e uma sala personalizada só faltavam o cachimbo e o assistente. Estava quase tudo pronto, só faltava seu “Watson”....
Ainda sobravam R$ 85,00 do dinheiro que conseguiu juntar com as horas extras na peixaria, e na sua falta de experiência no mundo dos negócios Zeca acreditava que seria suficiente para suas principais necessidades, até já tinha marcado com o síndico do centro comercial no centro da cidade.
- Bom dia, o senhor deve ser o Sr José Carlos.
Para Zeca aquilo soou até estranho nunca ouviu a palavra senhor e o seu nome na mesma sentença aliás, nem lembrava a última vez que haviam dito seu nome completo. – Sim sou eu, e o senhor deve ser o senhor Síndico.
- Pode me chamar de Antonio, em que posso ajudá-lo?
- Eu to montando meu escritório de detetive e tava quereno alugar uma sala.
- Detetive?
- É, tenho um diploma e uma carteirinha que eu mesmo fiz, quer ver?
- Não, não precisa. Tenho uma sala perfeita, 100m², bastante arejada, bela vista só R$ 350,00
- R$ 350,00? Num tens algo mais baratinho?
- Tenho uma por R$ 280,00 mais é menor.
- Inda tá pesado.
- Quanto o senhor tem?
Senhor de novo, cada vez Zeca se sentia mais importante – Bom eu tenho R$ 85,00 menos os R$ 7 do cachimbo sobra... R$ 78,00
- Setenta e oito reais?
O sindico achou que aquilo só podia ser uma brincadeira, mas resolveu embarcar.
- Eu tenho uma sala perfeita pro senhor e ainda vou dar um desconto, vou cobrar só setenta o resto o senhor economiza.
- Opa, desconto e bom também.
- É uma sala bem reservada, intimista. Fica no 3º andar, vamos que eu vou mostrar ao senhor.
E foram em direção a “sala” que seria ocupada por Zeca.
- Aí está.
- Onde?
- Essa porta aí na frente... Não é uma beleza?
- Mas isso num é a lixeira?
- Claro que não.
- Mas ta pareceno, tem até a portinhola pra joga o lixo lá em baixo.
- O senhor não é um detetive? É uma sala disfarçada, pra não chamar atenção.
- Ah, isso e bom também. Assim ninguém vai desconfiar.
- Viu? Sala personalizada.
- Negocio fechado.
O síndico não acreditava, mas ia continuar dando corda.
- Ah, se alguém aparecer aqui querendo jogar lixo o senhor deixa.
- Mas por que?
- Pra que ninguém descubra o disfarce da sua sala.
- Ta certo, o senhor tem toda razão seu síndico.
- Antonio
- Ah é, esqueci. Posso chamar de Toinho?
- Não.
Agora Zeca já tinha diploma, carteirinha feita por ele mesmo e uma sala personalizada só faltavam o cachimbo e o assistente. Estava quase tudo pronto, só faltava seu “Watson”....
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